Quando estudava na Belas Artes, eu tive uma disciplina
que consistia em desenhar, mas numa desconstrução do
desenho, partindo até para a abstração. Eu trabalha em uma gráfica e e a minha
jornada era das 16 as 23 horas. E as vezes eu praticamente ia virada pra faculdade. E semana anterior ao trabalho final de avaliação do
semestre, eu praticamente fiquei todos os dias até mais tarde e tive que virar alguma por conta do fechamento de uma revista quinzenal. Com isso, meu trabalho final ficou prejudicado, não
porque eu não sabia o que fazer, mas porque eu não tive forças para executá-lo.
Mas eu precisava apresentar alguma coisa, era final do semestre e eu não podia
de forma alguma reprovar naquela matéria. Eu tinha um compromisso com o
professor. E mais ainda um compromisso comigo mesma. Aí pensei: o que fazer? Eu
travei as quatro rodas, eu não conseguia desenhar e aí tive a brilhante ideia para
o trabalho final: apresentei um "não-trabalho" ou “o não desenho”.
Vejamos, a matéria era desenho experimental, correto? Ia
para o limiar da abstração e da mediocridade, a ponto do professor pedir para
gente: “hoje eu quero que vocês desenhem como se fossem idiotas”, e se era para
explorar o desenho nos limites da nonsense, nada mais apropriado e pertinente
que apresentar um trabalho sem desenho algum...e foi assim que eu fiz. Comecei
a apresentação falando e olhando diretamente para o professor:
“hoje eu irei apresentar
o não-desenho”, isso não quer dizer que ele não esteja aqui, isto dependerá da
capacidade de abstração de cada um de vocês, eu o vejo, eu o sinto, e você o verá da forma
que quiser, pois ele está aqui, não concretamente, mas subjetivamente. O traços
estão aqui, mas diluídos entre a atmosfera, os volumes estão aqui, mas numa
densidade tão etérea que entram por nosso poros, e o importante mesmo é a sensação de estar vendo um desenho
que só existirá na sua mente, com a sua visão e assim o tornará único e completamente autoral..."
O
professor arregalou o olhos azuis, fez mais cara de louco ainda, e olhou pra mim, eu já esperando um zero redondo: “brilhante”! você
entendeu o conceito da disciplina! E me deu 100. Ok, vocês podem pensar que fui picareta, mas na verdade, eu
posso afirmar que tive mais professores picaretas na academia que os meus
trabalhos. É certo que o ganhei na
argumentação e no conceito (de novo ele!) e mais, eu não deixei de apresentar o
trabalho e não dei nenhuma desculpa esfarrapada. Meus colegas de sala ficaram
divididos, metade me odiou pra sempre, rs e a outra me deu os parabéns e até se
perguntaram porque não tiveram aquela ideia antes.
Portanto...considerem este post de hoje um não-texto, um não-post. E, o interpretem da melhor forma possível, pois eu sabia que isso algum dia iria acontecer, e que eu não saberia o que
escrever no blog, e que eu travaria. Mas, eu também tenho um compromisso com vocês que lêem. Me perdoem, a intenção
era escrever algo bacana e inspirador...mas já sabem, tenho alma de artista,
não sou mulher-maravilha, estou em todas as "TP"s que se possa imaginar, TPM, TPA
(Tensão Pré Aniversário), TPT (Tensão Pré-Trabalho) e por fim, tensão e
ansiedade na espera de uma resposta que só sairá amanhã.
E quando estou assim, não sai desenho, não sai linha, não
sai conversa, não sai nada, e até segunda ordem, minha amiga insônia vai me acompanhar e aí terei que
escrever sobre uma alegria ou mais uma frustração...
É...crescer não é fácil, escrever não é fácil, viver não é fácil, mas sobretudo
saber lidar com a ansiedade ainda continua sendo um dos desafios mais difícies
pra mim...
LOOK 05 - look com pegada no militarismo pra trabalhar. Hoje
nem as fotos conseguiram sair boas, granulou, enfim, faz parte.
3 comentários:
Look muito perfeito! E gostei da ideia to não-texto, rsrs. Interpretarei.
Adorei o look! Muito lindo mesmo, assim como os outros. Você entende muito de moda, amiga.
ô amiga, estou em débito com você...eu sei, mas obrigada pelos elogios! estou a disposição para assessoria on-line. bjs
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